Uma obra rara no conjunto disponível sobre o processo revolucionário e o golpe (ou golpes) do 25 de Novembro. Jorge Sarabando, no livro O 25 de Novembro a Norte, apresenta um outro olhar sobre a nossa história recente.
“A História não é neutra”, lembra o autor. Os factos, esses, são objetivos: todavia podem ser omitidos ou alterados, valorizados ou apoucados. Jorge Sarabando afasta-se do “discurso hegemónico sobre o processo revolucionário iniciado” em 25 de Abril de 1974. Nessa narrativa, as personagens principais não são os que “operaram as conquistas democráticas mais tarde inscritas na Constituição – o MFA e o movimento popular”. No discurso hegemónico, oficial, os heróis são os que se opuseram a essas grandes conquistas civilizacionais do povo português.
Nesta 3ª edição revista e aumentada, o autor revela factos novos sobre o “verão quente” e a conspiração que conduziu ao 25 de Novembro. Desenvolve o tema das lutas camponesas no Norte e Centro, designadamente na Casa do Douro, recorda os saneamentos na Região Militar Norte, e dá melhor a conhecer a ofensiva das redes terroristas da extrema-direita no Minho e Trás-os-Montes.
O 25 de Novembro a Norte, editado pela Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, está divido em capítulos. Cada capítulo, exceto o último, corresponde a um mês do ano de 1975 – aparentemente pacífico no seu início. Em cada capítulo, num trabalho minucioso, temos notícia do que aconteceu nesse mês, dos avanços da Revolução, das reivindicações do povo, das medidas, muitas delas verdadeiramente revolucionárias, tomadas pelos governos provisórios de Vasco Gonçalves e mesmo ainda no VI Governo provisório, dirigido por Pinheiro de Azevedo. A esses dados, o autor dá o devido enquadramento – o que facilita a leitura a quem viveu ou não esse período da nossa história recente.
Jorge Sarabando foi participante empenhado no processo. Já o havia sido, na clandestinidade, no trabalho generoso e arriscadíssimo de unir forças para a derrubamento da ditadura. Sendo assim, pensar-se-á: estamos perante um trabalho, um ensaio, parcial, de branqueamento da História. O autor não esconde (nem podia) de que lado se posiciona no 25 de Novembro – e, no entanto, essa condição não perturba o rigor, nem deturpa a verdade.
O 25 de Novembro a Norte
o processo revolucionário no ano de 1975 ,
3ª ed. revista e aumentada
Jorge Sarabando
ed. AJHLP, 2020
PVP 10 euros